A convite do Santa Rosa Bureau Cultural, desenvolvemos um filme de animação gráfica multi-telas, no âmbito do projeto de Educação Patrimonial Trem da Vale - Vagão dos Sentidos, localizado em Mariana-MG.

A obra propõe uma imersão no universo da tipografia, que no mundo todo, e também nas Minas, foi uma invenção revolucionária para a divulgação e perpetuação das ideias e saberes dos homens. Conta-se que a primeira obra impressa na região é anterior ao advento da impressão Régia no Rio de Janeiro (1).

O que foi ressaltado em Tipos Móveis, e que não é assim tão conhecida, ou tão rememorada, é a influência desta prática no contexto específico das cidades de Ouro Preto e Mariana. Nesta região foram feitos os primeiros impressos do Brasil e publicadas a maior quantidade e diversidade de periódicos e revistas do país. O próprio espaço da oficina tipográfica era tido comoo local aglutinador, sendo ponto de encontro e ambiente desde resoluções corriqueiras familiares a negociações comerciais e até políticas. Imprimia-se casamentos e revoluções.

Escolhemos dar vida à materialidade deste universo, que está se perdendo pelo simples e óbvio motivo do desaparecimento gradual dessa técnica. Hoje, na Gráfica Ouro Preto, a mais importanda cidade, uma impressora Heidelberg tem como única função a numeração de blocos de nota fiscal. A relação e contato com a textura das peças de ferro e dos sulcos nos papéis, dos tons das tintas e das madeiras das gavetas, foi uma das linhas exploradas na narrativa.

Esse universo e seus detalhes são apresentados através de um filme de animação que percorre as janelas do Vagão dos Sentidos. Foram impressas a riqueza das gavetas, das cores das tintas e a textura das letras de chumbo e do papel impresso, além dos rangidos e burburinhos que escreveram tantos casamentos e revoluções.

Para a realização desse filme foi levada em conta a conformação do espaço, a posição de cada tela e de cada poltrona, para possibilitar uma experiência sensorial em diferentes pontos de vista. Imagem e som dão forma a esta composição gráficomovente, possibilitando uma viagem no tempo e espaço através da relação entre as pessoas, as palavras e as máquinas.

Durante toda a peça, o som acompanha as mesmas seções e temáticas. Não temos aqui uma trilha em separado, é uma associação intrínseca com a imagem no intuito de realmente se alcançar uma ambientação com efeitos sensoriais imersivos. A poesia dos tipos é há mais de 30 anos matéria do ouro-pretano Guilherme Mansur. Este “tipoeta”, como certa vez definiu Haroldo de Campos, cresceu justamente nessa mesma Gráfica Ouro Preto, que era gerenciada por sua família. E, trabalhando com as letras, cunhou uma poesia única, uma poesia-gráfica, numa fusão das linguagens verbais e visuais muito bem sucedida. Em convite especial para o projeto Tipos Móveis, Mansur – além do grande apoio prestado nas conversas e na disponibilização de seus tipos, ramas, clichês, ornamentos e da própria impressora para as gravações – compôs um poema que foi explorado de diferentes formas na realização do vídeo, e cujas palavras foram desmembradas e recompostas em uma das partes da narrativa.

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Ficha Técnica

Concepção, roteiro e direção: Cláudio Santos, Leonardo Dutra e Lucas Miranda
Poema original: Guilherme Mansur
Trilha sonora, design de som e mixagem: Lucas Miranda
Animação stop motion: Cláudio Santos e Leonardo Dutra
Montagem e animação: Luis Morici
Fotografia: Cláudio Santos, Leonardo Dutra e Luis Morici
Produção: Alessandra Maria Soares, Sarah Faria e Renato Moura
Impressão tipográfica: Cláudio Santos (Voltz) e Leonardo Martins (Gráfica Ouro Preto)
Consultoria Técnica A/V: EAV – Engenharia Audiovisual
Imagens históricas: Arquivo Público Mineiro
Realização: Voltz Design

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Saiba mais e veja os desdobramentos do projeto em:

http://www.voltzdesign.com.br/doogloo/tipos-moveis/
http://www.voltzdesign.com.br/doogloo/tipoema/
http://www.voltzdesign.com.br/doogloo/estalactites/

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(1) Tipografias e espaço público na Província de Minas Gerais (1828-1842).
Luciano da Silva Moreira